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“Se eu perguntasse às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito cavalos mais rápidos.”
A realidade é que não há qualquer evidência concreta de que Henry Ford tenha realmente dito a frase famosa e repetida frase.
Uma pesquisa no Google Books que mostra que a citação não aparece até:
- 2002 no livro “Beyond Disruption: Changing the Rules in the Marketplace” por Jean-Marie Dru
- 2003 no livro “Added Value: The Alchemy of Brand-led Growth” por Mark Sherrinton
- Na edição de 1999 de notícias trimestrais da indústria de cruzeiros a frase aparece “”Quero dizer, se Henry Ford questionasse as pessoas se deveria ou não construir um automóvel, elas provavelmente diriam a ele que o que realmente queriam era um cavalo mais rápido. Mas os designers precisam ser mais hábeis em saber o que os mercados desejam. “
No Capítulo 6 do livro Ubiquitous Computing Fundamentals (2009), editado por John Krumm, intitulado “From GUI to UUI: Interfaces for Ubiquitous Computing” de autoria de Aaron Quigley, a citação tem como fonte “The First Henry Ford: A Study in Personality and Business” (1970) de Anne Jardim.
Uma busca no livro de Jardim não traz nenhuma menção à frase “cavalo mais rápido”.
O site “Quote Investigator®” também falha em encontrar a atribuição a Henry Ford.
Em contato com o Museu Henry Ford sobre a proveniência da citação. A seguinte resposta foi obtida:
“No passado, as pesquisas sobre esse tópico não produziram resultados satisfatórios nem para o pesquisador nem para a equipe de pesquisa. O Sr. Ford escreveu numerosos artigos para uma variedade de periódicos e jornais e as citações atribuídas a ele eram variadas e muitas vezes sem fundamento”.
Museu Henry Ford Tweet
Inovação é entender quem (vai ou pode) usa(r)
Entender os problemas, necessidades, buscas de quem usa e/ou compra, seja por meio de métodos empíricos, observacionais, anedóticos ou mesmo por intuição.
Quer acreditar que a verdadeira inovação é criada por um único visionário talentoso com sua visão profética de um futuro melhor e ignorar a opinião de quem usa? Fique à vontade.
Ainda que Henry Ford não tenha verbalizado seus pensamentos sobre a ostensiva incapacidade dos clientes de comunicar suas necessidades não atendidas – a história realmente sugere indica que Henry Ford pensava nesse sentido – e sua inaptidão em captar as necessidades dos clientes (explícitas ou implícito), teve um impacto muito caro e negativo sobre os investidores, funcionários e clientes da Ford Motor Company.
Em 1921, a Ford Motor Company vendeu cerca de 2/3 de todos os carros fabricados nos EUA. Em 1926, essa participação caiu para aproximadamente 1/3. E em 1927, quando a Ford respondeu tardiamente (com tremendo custo financeiro e conflito interno) às mudanças nas preferências do mercado e na inovação competitiva, com a introdução da General Motors por exemplo, encerrando temporariamente a produção para reequipar suas fábricas e trazer o Modelo A ao mercado, essa porcentagem caiu para aproximadamente 15%.
A genialidade de Henry Ford não foi inventar a linha de montagem, peças intercambiáveis ou o automóvel. Ele não inventou nada disso.
A sua vantagem inicial veio da criação de um círculo elegante que sustentou sua visão para o primeiro automóvel durável do mercado de massa. Ele adaptou o processo de linha de montagem móvel para a fabricação de automóveis, o que lhe permitiu fabricar, comercializar e vender o Modelo T a um preço significativamente inferior ao de seus concorrentes, possibilitando a criação de um novo mercado em rápido crescimento.
Mas…. hoje está claro que sim, a adesão de Ford à sua visão estrita do carro de mercado de massa e como materializar essa visão foi fundamental tanto para seu sucesso inicial no crescimento da Ford Motor Company quanto para seu posterior fracasso em responder às inovações do setor de maneira rápida, oportuna e eficaz.
O fracasso de Ford não foi diretamente não ouvir seus clientes, mas sua recusa em testar continuamente sua visão contra a realidade.
Foi isso levou ao fracasso da Ford Motor Company em inovação contínua, resultando em uma perda catastrófica de mercado parte da qual nunca se recuperou.
Finja até você conseguir
A verdade é que muito do empreendedorismo (de “sucesso”), não necessariamente só o ‘de palco’, é estritamente baseado em mitos, construção de narrativas e uma densa cortinas de fumaça. Um grande “Fake it till you make it” (“Finja até você conseguir” em tradução literal)
Da insistência no culto à personalidade, às reputações e trajetórias ‘plantadas’ e artificialmente construídas, aos belos propósitos por “democratizar [insira aqui o setor]” e fazer o mundo um lugar melhor até às metodologias e inúmeras ‘receitas do sucesso’ — nada é o que parece.
Recentemente essa cultura virou até meme.

A questão não é o Henry Ford, se ele fez certa ou errado (olhando pra trás é muito fácil e cômodo julgar).
A questão é sobre a (Assimetria da) Informação que temos, decisões melhores e o que escolhemos acreditar.
Steve Jobs quase impediu a invenção do iPhone
A verdade é que Steve Jobs, visto por muitos como “símbolo de inovação”, era publicamente resistente à ideia da Apple fabricar um telefone, porque ele achava os telefones celulares “uma porcaria” e não estava convencido de que a categoria de smartphones seria um mercado amplo.
“A equipe executiva estava tentando convencer Steve de que construir um telefone era uma ótima ideia para a Apple. Ele realmente não via o caminho para o sucesso.”
Andy Grignon Tweet
Steve Jobs nem sempre foi confiante de que o item que mudaria o mundo seria um investimento inteligente a ser desenvolvido. É o que conta o Brian Merchant conta em seu grande livro “The One Device: The Secret History of the iPhone”.
Um engenheiro sênior do iPhone, Andy Grignon, é citado no livro dizendo: “A equipe executiva estava tentando convencer Steve de que construir um telefone era uma ótima ideia para a Apple. Ele realmente não via o caminho para o sucesso.”
“Não haveria iPhone se não fosse pelo trabalho de pessoas em todas as camadas aqui – para não mencionar aqueles que fabricam o próprio dispositivo em megafábricas espalhadas na China”.
“Mas o iPhone começou como um projeto experimental realizado sem o seu conhecimento (Jobs), tornou-se um projeto oficial por estímulo de sua equipe executiva e foi criado por uma equipe de programadores e especialistas em hardware brilhantes e incrivelmente trabalhadores.”
“O que, novamente, foi uma avaliação justa; os primeiros smartphones eram de fato meio nerds ou voltados para o público empresarial obcecado por e-mail”
Por fim, Jobs confiou no time para os aspectos técnicos do projeto experimental, mas “precisava ver uma interface que pudesse ser intuitiva e empolgante para usuários leigos antes de acreditar na ideia de que a Apple deveria entrar no mercado de telefonia…” comenta Brian Merchant.
Apple, Dynamic Island & Design
Esse foi o título do meu post, originalmente publicado no Linkedin, que causou polêmica entre meus colegas Designers. Nele, eu falava sobre a última novidade da Apple — a “Dynamic Island”.
“Resolve um problema de hardware e software”, “A melhor coisa de UX/UI de últimos anos” estão falando.
O meu pensamento está em sobre como pessoas “criativas” e “inovadoras” são na verdade só replicadoras. Igual fizemos com a frase do Henry Ford.
A verdade é que as pessoas são conservadoras, tímidas e conformadas no que criam, esperando o próximo produto, canvas, framework, livro, tendência, “expert” dizer o que pensar e como fazer as coisas.
A Apple é ótima em criar coisas segundo o que ELA acredita.
Segundo pessoas familiarizadas, até hoje a Apple não tem ou olha métricas, não faz pesquisa com usuário ou usa ferramentas que o designer hoje diz essenciais.
Então, você sabe o que está reproduzindo ao copiar a Apple? Não exclusivamente da Apple. Também serve para “Spotify Model“, Design Thinking, Scrum, Metaverso, Web3, Cripto, etc..
Ou você só repete e replica?
"Acredite ou não, em um ponto na história isso (botão) era um símbolo do melhor em design digital."
Tanner Christensen (@tannerc) Tweet

O Sucesso do Praticante
As pessoas adotam práticas com base no “sucesso do praticante” (WATTS, 2011), ou “viés de retrospectiva”.
Você acha que tem as mesmas necessidades, desafios, condições, ojetivos, base, objetivos da Apple? Do Spotify?
Temos muito curso, conteúdo e gente muito boa em repetir o que “está na moda”.
Aos jovens designers: ousem, experimentem, aprendam e pensem! Parem de só seguir “expert” e “tendência”.
Times precisam se concentrar em aprender, não só em fazer — London School of Economics and Political Science
Fazer boas perguntas é raro. De líderes e chefes, aos podcasts e vídeos no youtube. Estamos em uma ‘Cultura da resposta’, com a ideia de que todas as respostas se encontram facilmente, em uma única pessoa, processo, ‘framework‘ ou lugar.
Você acha que tem as respostas para todas as perguntas importantes? Caso sim, ou você não tem ideia da complexidade e da rapidez com que o mundo está mudando ou você está mentindo.
Quando times se concentram apenas em fazer, eles têm um desempenho pior do que times que também investem tempo no aprendizado. Times devem pensar em aprender para o futuro, não apenas no que estão fazendo agora. (JANARDHANAN, LEWIS, REGER, STEVENS, 2022)
Precisamos de perguntas poderosas e inspiradoras sobre novas e grandes oportunidades. Sobre o que pode ser e está além.
Boas perguntas convidam à colaboração, promovem “Entendimento Cruzado” (HUBER & LEWIS, 2010), a orientação para metas (HIRST, VAN KNIPPENBERG, & ZHOU, 2009; LEPINE, 2005; PORTER, 2005) e criam dispoição individual pelo domínio e desempenho (DWECK, 1986).
Eu chamo de “uma máquina de aprender e comunicar”.
Como sabiamente disse a Ana Ribeiro da Costa “(…) Deve existir um equívoco de algum dos lados: ou o design não é capaz de fazer tudo o que falam, ou os designers estão lavando as mão para um trabalho que deveria ser deles.”
Para mim esse trabalho é pensar. Entender que pensamento crítico, curiosidade e aprendizado são as melhores ferramentas.
Obrigado pela leitura!
Quer falar mais sobre esse assunto comigo? Me procura lá no Linkedin. Se você tem algo para acrescentar, questionar e expandir esse assunto, envie seu texto — vamos pensar e escrever em coletividad(e)!